segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Como assim (by Gama)

“Por que eu não dou a menor sorte com homens?”. A pergunta pegou Otávio completamente de surpresa. Afinal aquela não era uma noite qualquer. Desde há dias ele planejara deixar os filhos com a avó – sim, era ele quem tinha a guarda das crianças – e tratou cuidadosamente de todos os detalhes: o elegante restaurante, o pro seco italiano, que – ele sabia – ela por ironia do destino aprendeu a amar nos tempos em que morou em Madri, na Espanha, onde fez MBA em moda. A comida, a música de fundo. Naquela noite, se tudo desse certo, assumiria a dianteira da extensa lista – ele imaginava – de pretendentes de Carol. Se sua performance diante da moça fosse plena, poderia sair dali como novo namorado, sei lá. Mil coisas passou por sua cabeça naqueles dias que antecederam o encontro. Eles não se viam havia meses.
Otávio era daqueles homens que planejam tudo e não deixam nenhum detalhe de fora. Fazem planos para ir a padaria da esquina, lavam o carro todo fim-de-semana na calçada de casa, faça Sol faça chuva. Mas não costumam lidar bem com o improviso. Por isso precisou de um tempo para processar a pergunta.
– Como é que é? Não entendi?
Ela repetiu.
– Estou perguntando se você, que é meu amigo – frisou –, sabe me dizer por que raios eu não dou sorte com relacionamentos. Só arrumo bomba. E parece que tenho um pára-raios de roubada. Tu soube da última, não soube? Te contei, não?
Otávio chegou a olhar para trás e para os lados. E rezou para que ela estivesse falando com outro. Não estava. O amigo da vez – ela não tinha tantos –, escolhido para ouvir suas lamentações acerca do universo masculino era mesmo Otavinho. Teve vontade de se levantar, mandar tomar no cu e ir embora. Afinal, não tinha planejado tudo tão minuciosamente para ouvi-la falar de outros. Levantou-se. Ameaçou sentar-se novamente. Pensou o que dizer. Olhou bem para ela e falou:
– Vou ao banheiro.

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